



DISPERSÕES E RECONEXÕES
22.08.2020
A exposição Dispersões e Reconexões nasce do Grupo Interdisciplinar de Extensão e Pesquisa "Espaço para Criações Poéticas" para o VI Festival Arte e Cultura da UNIR em oposição à vida voraz do milênio. O tempo pediu tempo, a Terra suplicou descanso e o homem, que não compreendia a quietude, parou. Como quem desafia a física da aceleração, uma criatura pequena, minúscula, invisível até, nos coloca em completa inércia e já não há mais distrações, somos forçados a lidar com as questões intrínsecas ao eu, ao nós.
Assim, sete artistas observam seu interior e se dispersam, transpassando as fronteiras do lar mais íntimo, o corpo, e reverberando outros corpos. Ao refletir suas histórias e memórias, os artistas tomam o tempo não mais como um titã impiedoso de quem se corre incessantemente, mas um alguém que nos ensina a harmonia de nossos passados, presentes e futuros. É quando Cronos desconstrói a nossa maneira de vê-lo que retornamos ao acalanto dos braços da mãe Gaia.
Por isso, Pritama Brussolo cria a vídeo-performance “Abraçando Gaia”, como uma despedida e devolução de 9 corpos-esculturas para a Mãe Terra. Em um ritual de passagem para cada um dos corpos, também ligados às 100 mil mortes de brasileiros em função da Covid-19, a artista pede à Gaia acolhimento e cuidado. Já o ator e artista visual Rafa Correa entra em catarse ao partir e convergir com suas memórias na videoarte "O Jardim do Éden", um jardim que floresce as trajetórias transgressoras de corpos amazônicos, almejando identidades frutíferas em oposição ao que é arraigado como danoso na sociedade contemporânea.
Para além do cuidado social, outro processo crucial tem sido a reconexão com o eu, a dispersão do olhar para o interior, e é nesse sentido que Vitória Morão propõe a introversão na série "olhar para dentro". A ilustração da boneca, que olha o interior de uma casa e lá encontra a si observando a mesma casa, fala sobre a busca dos diferentes desejos de um "eu". Enquanto que Felipe Bandeira na série fotográfica "EGOs" almeja a compreensão de quais "eus" e egos existem dentro de um artista e como achar o desejo comum a eles, tornando isso uma busca tão estética quanto poética.
A artista visual Samara Ramos documenta na produção "Nós em nós" um diário fotográfico, expondo, em mundos possíveis ou não, as prisões que construímos na busca pela liberdade. E Guilherme Ocampo provoca estranheza em sua videoarte "XXXXXXXX" ao investigar as sensações e significados que o atravessam no ambiente familiar e que se misturam aos cenários fictícios de seu universo particular. Por sua vez, na videoarte "Carta de Amor aos Astros", a artista Marina del Cármen personifica a grande estrela Sol enquanto sua amada se torna Lua num processo simbiótico de dispersão de luz e conexão consigo e com o outro, declarando amor ao todo.
Os tempos estão mudando, a letargia social colocou o homem em um estado de efervescência e por e para isso a arte se faz presente. Nós, artistas, criamos porque é como vivemos e efervescemos, porque a alternativa é insuportável e, principalmente, para sermos criados. Os artistas deste grupo, hoje, são criados em meio a memórias, intimidades, dispersões e conexões, e vos convidam a se criarem também por meio de suas obras.
Felipe Bandeira
EGOs
Fotografia.
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Guilherme Ocampo
Sem título.
Vídeo-arte.
Marina Del Cármen
Carta de amor aos astros.
Vídeo-arte
Pritama Brussolo
Abraçando Gaia.
Vídeo-performance.
Rafael Correia e Amanara Brandão
O Jardim do Éden.
Video-arte.
Samara Ramos
Nós em Nós.
Fotografia.
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Vitória Morão
Olhar para dentro.
Ilustração Digital.
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